Artigo publicado pelo Diário do Comércio em 17/08/2022 – link

O termo ESG, formado pelo tripé Environmental (Ambiental), Social (Social) e Governance (Governança), aborda assuntos que fazem parte da prosperidade empresarial tanto no curto quanto no longo prazo. Não se trata de mais um “modismo de multinacionais” e sim questões fundamentais igualmente para as pequenas e médias empresas por envolver a criação de valor em assuntos que vão muito além do lucro ao contemplar o meio ambiente, regeneração cíclica, cuidado com as gerações futuras, energia limpa, responsabilidade social, transparência na gestão, risco climático, diversidade, ética corporativa e busca pelo lucro ótimo que considere o compromisso com essa agenda – não o lucro máximo de curto prazo. O termo nasceu em 2004 num relatório final pelo Pacto Global, braço da Organização das Nações Unidas (ONU), que tinha como objetivo engajar as organizações na adoção de princípios nas áreas de direitos humanos, trabalho, meio ambiente e ética empresarial.

Uma empresa que se preocupa de verdade com o meio ambiente, por exemplo, sabe que a biodiversidade precisa ser preservada para a sobrevivência dos negócios e da própria espécie humana. A responsabilidade social se refere ao diálogo e respeito para com aqueles que são direta ou indiretamente impactados pelas ações internas e externas da empresa. A boa governança é primordial, base dos demais pilares, ao definir o futuro e prioridades de investimento com transparência, equidade, responsabilidade corporativa e prestação de contas (accountability).

Pesquisa elaborada em 2019 pela agência Union + Webster mostrou que 87% dos brasileiros preferem comprar de empresas sustentáveis e mais engajadas com ações sociais, demonstrando que esses temas sensíveis ao consumidor podem fazer a diferença na hora de escolher a marca dos seus produtos e serviços, aumentando as receitas e faturamentos. Importante destacar que essa percepção “ESG = empresa mais ética e confiável” não se restringe às grandes e começa a chegar também às pequenas e médias empresas, como resultado natural do amadurecimento dos mercados, reforçando que a gestão sustentável e responsável deve ser seguida pelas companhias de menor porte. Em breve, as empresas exigirão dos seus fornecedores esse compromisso formal, zelando pela cadeia produtiva como um todo.

Outro levantamento realizado em 2017 pelas consultorias The Boston Consulting Group, Global Network of Director Institutes e McKinsey & Company revelou que quase 90% dos conselheiros consultados de diversos setores adotam ou acreditam que o ESG é essencial para o sucesso e sobrevivência de suas empresas no presente e futuro, especialmente importante para a competitividade e longevidade no longo prazo.

Pela visibilidade do tema, muitos podem pensar que o ESG é uma prática recente, mas trata-se de uma atualização de diretrizes que já vinham sendo implantadas por centenas de empresas desde a década de 90, acompanhadas pelo Dow Jones Sustainability Index – Índice de Sustentabilidade Dow Jones. Adotar o modelo ESG significa mudar a cultura da organização tanto por meio de ações elementares, como separar o lixo para reciclagem, quanto iniciativas transformadoras, como o plantio de milhares de mudas de árvores para recuperar áreas degradadas ou mudança de um grande fornecedor para priorizar matérias-primas renováveis e menos poluentes. Compromisso social, na base, significa praticar salários justos, meritocracia, cumprimento das leis trabalhistas, medidas de segurança no exercício da atividade laboral, promoção da saúde biopsicossocial e diversidade no quadro de colaboradores, entre outras ações.

As pequenas empresas podem absorver o ESG como forma de entregar mais que o básico, avançando para práticas típicas da empresa responsável e sustentável que a sociedade admira, o mercado reconhece e outras empresas exigirão para fazer negócios, destacando-se por uma atuação que vai muito além da simples transação comercial. Suas boas práticas de gestão – com metas qualitativas e quantitativas transpassadas pelos princípios ESG – certamente serão notadas e estimularão mais vendas, admiração, confiança e reputação. Evidentemente o orçamento inicial será pequeno, se comparado ao das grandes, mas o importante é iniciar e aumentar aos poucos os valores investidos.

A implantação dos três pilares que sustentam o modelo ESG a cada dia deixa de ser um diferencial competitivo para se transformar em necessidade de sobrevivência, por isso é fundamental que as empresas se preparem o quanto antes para as oportunidades que essa estrutura potencializa ou precisarão lidar com graves problemas por desconsiderá-la.

Carlos Caixeta é economista, consultor empresarial e associado do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa

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